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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Z: Parte 11

5 horas atrás...

No escritório as cartas ficavam jogadas em cima da mesa. Por ser um lugar calmo, às vezes eram deixadas lá e demoravam a serem lidas. Quem costumava passar mais tempo naquele local era Nitch, lá ele tinha acesso as câmeras de vigilância de todo o local, computador que suportava seus jogos que gostava de jogar para passar o tempo e acesso fácil a praticamente todos os locais disponíveis dentro do laboratório.
Neste dia aconteceu algo que não era comum. Havia alguém chegando. As câmeras captavam que havia um possível visitante chegando, isso não era normal, aquele local nunca era visitado. Nitch se inclinava para tentar visualizar o rosto do visitante dentro do carro:

- Não... - Disse em voz alta como se estivesse apavorado.

Começou a revirar as cartas na mesa e encontrou o que procurava. Uma carta oficial da diretoria. Rasgou o envelope imediatamente retirando o conteúdo interior. Um documento avisando que neste dia o Doutor Rui viria inspecionar o local por estarem insatisfeitos com os relatórios sobre o desenvolvimento das pesquisas. Não havia mais tempo, ele estava ali. Não tinha chance alguma de barrá-lo, ele possui o cartão de acesso de nível máximo, ou seja, ele pode andar como um fantasma por todos os quartos, acomodações, laboratórios... Tudo! Ele simplesmente atravessa qualquer porta graças ao nível de acesso daquele cartãozinho. Nitch precisava avisar a Myca.

- EU NÃO ACREDITO, NITCH! COMO VOCÊ DEIXA UMA CARTA DE TAMANHA IMPORTÂNCIA ASSIM JOGADA? - Myca estava um isto de fúria e desespero.

- Myca, se acalma! E para de gritar! Ele pode chegar a qualquer momento aqui nesta sala ou em qualquer uma outra sala. Temos que agir naturalmente, espera ele ir embora e deixo você berrar o quanto quiser comigo.

- Ok... - Respirou fundo. - Mas o que iremos fazer agora? Não tivemos mais nenhum progresso com nenhum dos internos.

- Eu não sei, Myca. Eu também gostaria de ter essa resposta.

- E eu também! 

Irrompeu uma voz diferente direto da entrada da sala do laboratório. Era ele. Doutor Rui. Ele estava lá e pelo jeito ouviu a conversa de camarote.

- É engraçado saber o quão incompetente vocês dois podem ser. Aqui vocês tem apenas quatro pacientes e não conseguem um mísero progresso nas nossas pesquisas, isso sem mencionar o deslize de vocês, mas depois nós resolveremos isso. É por isso que sempre fui contra as exigências daquele inútil do Dr. Villas.

- NÃO OUSE FALAR DO MEU PAI! - Explodiu, Myca que já estava com os nervos aflorados pelo deslize de seu colega de trabalho.

- Eu não dirigi a palavra à você, menina insolente. Ponha-se no seu lugar. Você está aqui pela influência do seu pai e não pela sua competência. Agora... Eu quero ver os internos, um deles me intriga. Quem é o tal de Lucas que vocês tanto falam nos relatórios. Como costumam chamá-lo mesmo? Z?

Muito foi conversado e passado para o Doutor. Todos os testes, Pesquisas, Avanços. Regressos. Tudo. Agora ele tinha total conhecimento de todos os três internos e suas características. Dr. Rui vistoriou todos os locais possíveis de todo o prédio, em seguida foi até o interno que mais o intrigava, Z. Num momento de descuido de Z o Doutor aplicou uma substância injetável no rapaz. Aproveitou um momento de susto em que a adrenalina obteve um pico e aplicou sem maiores problemas a injeção. Em pouco tempo Z estava mais lento e começava a perder os sentidos até apagar completamente selado em uma cadeira.

- Iniciem o processo de calibração mental, agora! Este é um sujeito raro. E não quero que vocês cometam o mesmo erro que fizeram com o X.

Nitch não sabia o que fazer. Olhou para Myca com um olhar de "E agora?" . Myca interviu:

- O Senhor não pode fazer isso!

- Desculpe, acho que não fui claro quanto a sua insignificância... - Debochou.

- Pode parar! Você acha que pode vir aqui e fazer o que bem entende? Não é assim que as coisas funcionam! A carta dizia que você faria apenas uma visita para vistoriar e não alterar o rumo das pesquisas.

- Quem cuida das cartas desse local?

- O Nitch, por quê? Não mude de assunto!

Dr. Rui virou para Nitch com uma expressão de reprovação:

- E cuida das câmeras de vigilância também, eu presumo. Isso explica o que aconteceu com o X. Pelo jeito a cegueira do seu pai deve ser hereditária.

Nitch era extremamente afetado quando seu pai se tornava o assunto. Ele simplesmente se tornava frágil e sensível, um filhote. Vendo a humilhação do amigo, Myca não pôde se conter e deu um passo à frente para defendê-lo. Dr. Rui num ato extremamente rápido puxou de dentro do jaleco um envelope e o jogou bem na cara da menina que avançava em sua direção dele furiosa:

- O que é isso? Você é louco?

- Oh... Me desculpa, moça. É meu primeiro dia como carteiro. Essa carta estava jogada lá na entrada. Pelo jeito entregaram e ninguém se prestou a recolher.

Era uma outra carta da diretoria confirmando a visita de Rui e por fim cedendo-lhe o poder de interferência em qualquer assunto no qual ele notasse alguma irregularidade ou problema. Ele não tinha apenas aquele cartão de acesso máximo. Ele tinha carta branca para fazer o que bem entendesse e tinha apoio da diretoria do projeto:

- Nitch... - Myca não sabia o que dizer para o amigo. Estava decepcionada.

Nitch estava estático, com um olhar muito triste reprovando a si mesmo pela irresponsabilidade que havia colocado os dois ali naquela situação. Agora não poderia fazer mais nada além de obedecer o tirano Rui:

- Por que você não vai se mostrar útil em algum lugar? Saia para que nós possamos trabalhar...

- O Senhor já está passando dos lim...

Antes que pudesse terminar a frase o Doutor lançou um olhar furioso seguido de um tapa com as costas da mão no rosto da garota que foi ao chão imediatamente devido a força da pancada:

- EU SOU O LIMITE! SUMA DA MINHA FRENTE ANTES QUE EU IGNORE A CONSIDERAÇÃO QUE A CORPORAÇÃO TEM PELO CADÁVER DE SEU PAI!

Myca se levantou um pouco zonza pela pancada. Virou as costas e saiu. Seu semblante havia mudado. Um plano vinha em sua mente. Ela estava determinada.

40 minutos após o desmaio...

- Pode liberar o W!

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Z: Parte 10

Seu corpo suado se envolvia no meu com um cheiro que exalava puro prazer. Seu cabelo se escorria sobre meu peito molhado da mistura de nossos líquidos corporais já misturados por tantas horas de amor. Não ouvia mais nada além do som da sua respiração ofegante em meu ouvido e o peculiar "nhec nhec" do ranger da cama naquela noite fria. Quando não aguentava mais de cansaço ela subia sobre meu corpo e tomava novamente meu folego enquanto meu corpo em êxtase parecia desfalecer aos poucos e eu ia ouvindo de forma cada vez mais falhada o tom suave de sua voz me chamando, bem longe, até que de repente ficou perto demais:

- FILIPE! ACORDA! O Z FOI APAGADO PELO DOUTOR!
- Myca?! Você não... quer dizer. Você não ouviu nada da minha narrativa, né?
- Era cinquenta tons de cinza?
- N-não... Quer dizer, pode ser! - E que ela nunca saiba dos meus sonhos eróticos com ela.
- Então, o Z está apagado lá no laboratório e você é o único que pode ajudar.

Isso é hora do "Modo louco babão":

- Nhaaaaaa! Eu não sei aonde eu tô! Eu quero melão enfermeira!
- Y... Para...
- Acho que fiz xixi...
-Y! É sério!
- Mas que droga! Eu só quero ficar em paz! Por que você acha que eu sou o único que poderia ajudar o Z numa situação dessa?
- Porque você é o único aqui que se lembra de tudo.
- É, faz sentido. Ei, como você sabe disso?
- Filipe, você é bem ingênuo de achar que nos engana, estamos com vocês aqui todos os dias.
- Tá bom, mas se você me apagarem de novo...
- Hum?
- É, não vai acontecer nada, não vou lembrar mesmo...
- Pois é.
- E como sei que você não está me atraindo para uma armadilha só pra me apagar igual acabaram de fazer com o Z?

Myca tirou o cabelo que cobria a lateral de seu rosto mostrando uma nítida marca de um tapa naquele lado da face. Estava roxo e bem feio. Não podia ser auto-infligido e muito menos ela se deixaria apanhar dessa forma só por uma armadilha, ou ela pode gostar de uns tapas safados de vez em quando:

- Por que tá mordendo o lábio?
- Oi? Não! Não tava!
- Sabia que você é menos hiperativo quando a gente te "apaga"?
- É, talvez as vezes eu precise. Mas enfim, preciso saber o que aconteceu. Não posso ir assim de mãos vazias, sem mais nem menos, nem sei se vou precisar usar meus golpes ninjas e tal.
- Na verdade só precisamos dar um jeito de tirar o Z de lá, você não vai precisar usar golpes ninjas. A não ser...
- A não ser? - repetiu, Y.
- A não ser que seja a sua ultima alternativa de sobrevivência...
- Pera aí...
- É!
- Não!
- Sim!
- Tá falando sério?
- Tô!
- Por quê?
- Não pensei em anda, melhor, Y!
- VAMOS TODOS MORREEEEEEER! - Gritou enquanto se jogava de joelhos no chão jogando os braços pra cima.
- Não exagera, é só você voltar a tempo pro seu quarto e fechar a porta.
- Ele vai me matar!
- Não vai!
- Vai, muito! E depois vai matar vocês usando meu corpo de tacape.
- Que horror, Filipe! É a nossa única chance de salvar o Z e tirar o Doutor daqui.
- Eu vou me arrepender muito disso, né?
- É possível. A não ser que seja rápido...
- Tem certeza mesmo?
- Y! PARA! Não tem outro jeito. Corremos risco de vida. Você é o único que já fugiu dele mais de uma vez. Se tem alguém certo pra fazer isso, é VOCÊ!
- É, eu sou bom.
- Você não presta!
- Mas ainda sou bom.
- Tá pronto ou não?
- Sim!

Eu parecia confiante naquele momento. Mas por dentro eu era uma diarreia com ossos. Meu corpo tremia da cabeça aos pés. Ninguém sabe o terror que é fugir daquele monstro. Se vocês achavam que o pior pesadelo de qualquer um de nós era a presença do Dr. Rui é que nunca sentiram a baforada assassina daquele cujo o quarto fora selado há muito tempo. Parece que a única forma de salvar meu vizinho, sair de herói pra garota dos meus sonhos mais molhadinhos e ainda ter uma chance de fugir esse lugar também poderia ser a minha sentença de morte. Minha missão, atraí-lo para o Doutor. Missão secundária, ficar vivo. Qualquer um dos dois que me pegar primeiro pode significar meu fim, Doutor Rui não sentiria remorso em me jogar para aquela besta fera me devorar.

- Y, você sabe que eu to ouvindo todo esse seu drama né? E que negócio de sonho molhadinho é esse?
- Myca! Não me interrompa! Aliás... Eu estou pronto. - Enquanto assumia uma posição de maratonista pronto pra disparar em corrida pelo corredor a esquerda.
- É pro outro lado.
- Eu sabia! - Se ajustou para o lado oposto enquanto um suor que parecia uma lágrima descia seu rosto. - Pode liberar o W!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Z- parte 9

Myca não havia percebido que eu estava tentando parecer o mais natural possível depois daquele episódio que ainda não sei dizer se foi de insanidade ou um pequena dose de realidade havia me acontecido. Eu tinha praticamente um vizinho, que agora, fazia questão de ser meu colega de quarto perfurando minha parede e vomitando um monte de informação que não fazia a minima ideia se eram reais ou não:

- Z... Tudo bem?
- É... Tudo! Tudo ótimo, Myca! E... - Pensei rápido. - E as coisas? Como vão?
- As coisas?
- Sim! Todas elas!
- Você dormiu essa noite, Z?
- Claro! Nunca dormi tão bem!
- Talvez seja isso - Rasgou uma nova voz vinda da porta do quarto. - Então... Esse é o famoso?
- Ah... Sim, Doutor... Deixe-me apresentá-los. Z, este é o Doutor Rui. Ele é o encarregado por todo este lugar.

Captando o meu olhar interrogativo, Dr. Rui estendeu a mão e me lançou a resposta como se pudesse ler meus pensamentos:

- É um prazer, Z! Está se perguntando o por quê de nunca me ver por aqui. Mas já te digo de antemão que sou um homem muito ocupado e infelizmente não posso cuidar do meu bem mais precioso que é este local. Por isso deixo Myca e Nitch por aqui, eles são meus olhos enquanto estou fora.

- Desculpe a indelicadeza, Doutor. Mas o que é este lugar? O que vocês fazem aqui exatamente? E por que não chamam este local por um nome?

- Oh, perguntas... Muitas perguntas! Venha! Eu vou te mostrar...

Dr. Rui apontou para a porta e eu segui a indicação. Como sempre eu buscava respostas sobre tudo a minha volta e se ele era o dono delas eu precisava segui-lo naquele momento. Talvez o tal do Y fosse só um doido varrido.
Paramos no primeiro quarto logo ao lado do meu, supostamente aquele era o quarto do Filipe, ou Y:

- Este é o Y.

Então era verdade, ele realmente era um interno como eu e também tinha recebido um nome de letra:

- Y? Por que vocês nos dão nomes com letras?

- Por que vocês são 26.

- Espera, existem mais 24 pessoas como eu aqui? Todos sem memória, sem saber quem são?

- Não, todos morreram.

Fiquei paralisado com a informação enquanto encarava Filipe que me olhava com um olhar um pouco assustado. Filipe não era alto, possuía uma barba por fazer, cabelo curto, um corpo de um cara normal, mas era visível que era muito esperto só pelo olhar. Ele realmente parecia o tipo de cara que na hora de um aperto era capaz de fazer leite jorrar de pedra:

- Você está falando sério?

- Não! hahaha!

- Nossa, que alivio! Eu realmente fiquei assustado!

Dr. Rui seguiu em frente e a porta do quarto de Y se fechou. Fui atrás dele ainda curioso. Quando passamos por outros quartos realmente pareciam vazios, era como uma mansão com inúmeros quartos onde só um casal vive.
Em certo ponto de nossa caminhada e conversa passamos por um quarto que me chamou atenção, ao chegar perto pude ouvir um som de passos vindo em disparada na minha direção e de repente um estrondo contra a porta. Parecia que o que estava ali dentro sabia que eu estava parado ali na frente mesmo com o quarto aparentemente apagado e a porta fechada. Eu conhecia os quartos, morava em um aliás, sabia que não havia como ver nada do outro lado e nem ouvir as vezes. Mas essa coisa conseguia me sentir:

- Z, é melhor se afastar desse aí... - O Doutor estava atrás de mim me puxando para sair de perto. -Ele não é muito estável. Não queremos que essa porta se abra nem por acidente, ok?

- Mas o que era aquela coisa?

- É só mais alguém que perdeu o nome e tem um temperamento um pouco forte, logo ele se acalma.

Eu senti o meu medo sendo puxado pra dentro daquelas paredes como se ele tivesse pego meu corpo e devorado me dilacerando com as próprias mãos, porém, ao mesmo tempo eu senti a vontade de fazer o mesmo com ele. Nunca me senti daquela forma.
Dr. Rui era uma pessoa agradável de se conversar, o típico chefe legal. Brincava, ironizava coisas, ria... Até que chegamos numa sala com um enorme monitor onde Myca e Nitch estavam afobados como se preparassem alguma cerimonia:

- Z, você perguntou o nome desse local, não é?

- Sim!

- Chamamos este local de laboratório...

- Laboratório? De que?

- De pessoas. Você é uma experiência e começou a me causar problemas.

- Como assim? O que eu fiz? Quem são vocês? O que fizeram comigo?

Ficando em histeria comecei a querer correr, fugir daquele lugar, mas minhas pernas pareciam não me obedecer. Meus próprios gritos começaram a ficar abafados aos meus ouvidos, a visão foi ficando turva. Breu.Tentei lutar contra aquilo e vi tudo em câmera lenta e sem som, o Dr. Rui me arrastava até a cadeira que havia no centro da sala, uma cadeira que parecia cirurgica. Me pôs sentado. Tudo se apagou.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Z - Parte 8

O coração estava acelerado. Poderia ser qualquer um ali atrás daquela parede. Um rato talvez? Não... Ratos não batem na parede. O Nitch me pregando uma peça Não... ele não é de brincar sem te olhar nos olhos... Recostei a cabeça na parede tentando ouvir os barulho que cessaram por um momento. Ao encostar a orelha na parede acolchoada vi a morte ou a quase morte passar diante dos meus olhos. Uma lâmina aparentemente muito afiada atravessou a parede bem na frente do meu rosto. Centímetros para a direita e eu seria um cadáver com uma faca atravessada no cérebro.
Num pulo para trás por causa do susto fui capaz de ainda ver a lamina voltando e de repente um chamado inesperado:

- Psst... PSSSST!

Olhei para os lados tentando ver se não era alguma brincadeira ou mais um sonho doido:

- Ei... Vizinho.. Está aí? Ouvi quando você deu uma batida na parede, sei que deve ter alguém... - A voz ficou calada. - Espero que não seja o Nitch ou a Myca, eu estaria em apuros...

Num impulso voltei para perto da parede e resolvi me socializar com a vizinhança inesperada:

- Você quase me matou!
- Oh, então você está aí... Desculpe por te assustar.
- Não foi de susto, você quase atravessou essa coisa pela minha cara.
- E o que você estava fazendo com a cara na parede? Tá achando que é algum tipo de telefone ou o que?
- Engraçadinho... - Por algum motivo, aquele cara já me irritava com o jeito sarcástico de ser com alguém que ele acabara de começar a falar. - Mas então... Você trabalha aqui?
- Sim, trabalho. Sou o furador de paredes oficial desse lugar, às vezes fico entediado e furo crânios alheios... Claro que não, seu estúpido! Assim como você também estou preso neste lugar.
- Preso?
- Vai me dizer que você acredita que estão te ajudando?
- Mas é claro que estão! Eu já comecei até a lembrar algumas coisas da minha vida antiga!
- Ahahahaha! Sério? Que mágico! Estou feliz por você, cara! Parabéns!
- Você está sendo sarcástico de novo, não é?
- E você consegue ser um gênio mesmo sendo tão burro. Acorda, cara! Presta atenção! Quantas vezes você foi apagado assim que estava descobrindo algo de importante sobre esta espelunca?
- Bem, acho que...

Aquilo já havia se passado na minha cabeça quando desconfiei pela primeira vez desse lugar. Mas, com o tempo comecei a confiar novamente na dupla que cuidava de mim o tempo todo. Mas será que é realmente cuidado isso tudo?

- É, já perdeu as contas, né chapa?
- Por que você acha que tem algo errado?
- É só você olhar em volta... Parece teoria da conspiração, mas é só o que esse lugar me mostra...
- E como você sabe ou... ACHA que sabe disso tudo? Como sabe que não foi "apagado" como você diz e acordou desse jeito?
- Simples, brother... Eu finjo que não sei de nada e não preciso mais ser apagado. Fim! algo de ruim está acontecendo aqui e eu preciso que me ajude a sair desse lugar. Até deixo você sair comigo.
- Entendi... E eu saio e vou para onde se não lembro nem meu nome?
- Você vai lembrar, só parar de ser esse manézão e começar a fingir... Agora eu tenho que ir que já tá quase na hora.
- Hora de que?
- Myca vai passar na sua cela..
- Quarto! - Interrompi.
- Como quiser... E o Nitch no meu pra ver se está tudo bem. A propósito, antes de desligar nossa ligação aqui... Como te chamam?
- Z... E você?
- Y. Mas meu nome é Filipe. Me chama como achar melhor, falou? Agora vou desligar. Beijo, tchau!

O pequeno buraco na parede se preencheu com estofado novamente como se ele tivesse posto uma tampa do outro lado. Ou como se minha imaginação tivesse criado tudo aquilo. Não se passou nem um minuto desde que ele falou tudo aquilo e a porta do meu quarto se abriu revelando Myca. Ele estava certo sobre isso... Palpite? Sorte? Alucinação? Eu teria que investigar mais a fundo para saber. Mas aparentemente, tenho um novo companheiro ao lado que pode ter algumas respostas.

sábado, 1 de agosto de 2015

Z - Parte 7

Myca colocou uma caneca de chá quente sobre a mesa e a empurrou até mim. Eu estava com o olhar um pouco vago olhando para o nada e sem esboçar muita reação a nada a minha volta:

- Vai, Z. Bebe um pouco de chá...
- Hum? Ah, obrigado, Myca...
- Então?
- Então...? - Retruquei.
- Quer me contar?
- Eu ainda  não sei
- Não sabe o que exatamente?
- Não sei se tudo que se passa é um sonho ou são memórias. Às vezes não tenho certeza nem de estar acordado. O que me garante que isso aqui é real? Como posso saber que não vou ser acordado novamente no meu quarto daqui a pouco?
- Olha Z... - Myca estendeu a mão colocando-a sobre a minha. - Eu sei que tudo deve estar bastante confuso pra você nesse momento. Mas eu posso te garantir que tudo isso aqui é real sim. Você não sente o calor do chá quando bebe? Não está sentindo que estou tocando em você?
- Sim. Mas...
- Mas...?
- Mas toda vez que tenho esses... Sonhos ou sei lá o que quer que sejam tudo parece tão real...
- Tem algo que você ainda não nos contou?
- O que realmente aconteceu no dia do exame, Myca?

Ela se ajeitou na cadeira, olhou fixamente para a caneca de chá que estava em sua mão, respirou fundo e em seguida me lançou um olhar um pouco triste:

- Naquele dia os exames corriam bem até o momento da entrevista...
- Você diz a hora que o Nitch começou a me fazer as perguntas finais? -Interrompi.
- Isso. Você pareceu um pouco nervoso e teve uma pequena convulsão e apagou. Nós o levamos até seu quarto e lá esperamos você acordar quando de repente você começou a se debater na sua cama até finalmente nos ver ali ao seu lado.
- Eu não sei dizer até que ponto foi real...
- O que, Z? - Perguntou com uma evidente curiosidade na voz.
- Eu me lembro de algumas perguntas... Mas deixa pra lá...


Qualquer que for a verdade sobre o que aconteceu, algo me incomodava sobre a forma que estavam mostrando interesse em apaziguar o que aconteceu no dia dos exames. Eu estava desconfortável. Desconfiado. E isso não me parecia algo bom. eu precisava me certificar. Mas como? Não posso andar sozinho por este lugar. Se há alguém além de mim aqui dentro talvez também não saiba da minha existência. Preciso ficar atento, observar turnos, padrões... Em algum momento quando eu saio, outro alguém pode entrar e assim acontece a mágica. Eu realmente quero respostas, mas na minha cabeça só me vem perguntas. Então está na hora de eu ir atrás do que eu vim procurar.
Passei a semana seguinte observando tudo de diferente de dentro do meu quarto, sons, movimentações externas, conversas rápidas enquanto Nitch e Myca passavam pela porta da minha "prisão". Já não era mais uma pulga atrás da orelha, era um carrapato bem grande me sugando todo o sangue do meu cérebro e aquilo estava me consumindo. Eu passei a evitar dormir algumas vezes só para tentar notar algo estranho ao meu redor. O cansaço venceu:

- Z?
- Myca?

Eu não podia ver nada, estava tudo escuro e lá no fundo eu podia ver uma fraca luz, algo parecido com uma vela acesa. Eu comecei a caminhar até ela:

- Não se aproxime!
- Mas... Quem está aí? Eu preciso saber quem é você!
- Você tenta descobrir quem sou eu... Mas e você, quem é?
- Eu... Não sei...

No meio daquela escuridão comecei a ouvir leves batidas ocas, cadenciadas, que começavam a aumentar de pouco em pouco. De repente as  batidas entravam na minha cabeça fazendo um estrondo, pareciam bombas caindo. Quando acordei estava sentado no chão com o corpo encostado contra a porta. Passei tanto tempo ali que não percebi que apaguei de cansaço naquele lugar. Desnorteado com o sonho nada esclarecedor tentei me levantar. Droga, minha perna adormeceu. Camableei quase caindo, e num baque seco choquei meu corpo contra uma das paredes do quarto. Tomara que não tenha alarmado nem a Myca nem o Nitch.
Meu coração congela. Um frio passa pela minha espinha e sinto uma sensação de euforia que não podia explicar... As batidas que eu ouvi... Eram reais! Estavam ali. Atrás de mim. Alguém estava tentando se comunicar. Tem alguém atrás dessa parede.

domingo, 12 de julho de 2015

Z - Parte 6

- Z, assim que você estiver pronto nós começamos, ok?

Era a hora de começarmos a vasculhar minha cabeça para encontrar esse "Eu oculto". Quem estava encarregado de monitorar o exame todo era Nitch. Myca o auxiliaria durante todo o processo caso algo aconteça comigo. Espero que tudo corra bem:

- Tudo ok, Nitch.
- Ótimo!

Seguimos para a sala de exames e lá fui instruído a ficar sentado. A minha frente havia uma tela onde de acordo com Nitch, passariam imagens a cada 15 segundos e eu deveria relacioná-las com pelo menos três coisas que viessem na minha mente. Enquanto me explicava, Nitch ia colando eletrodos pelo meu corpo:

- Bom, a ideia é forçar sua cabeça para que aquele aparelho ali possa captar sua atividade cerebral e de repente nos dar alguma resposta sobre seu "problema" de memória.
- Entendi. E tem algum risco?
- No máximo uma convulsão leve... Ou quem sabe duas!
- Nossa, me conforta muito! - Disse ironicamente. Óbvio.
- Z, durante o exame vou te fazer algumas perguntas também, ok?
- Não sendo de matemática...
- Ah, droga! Eu estava com algumas duvidas em equação de segundo grau e pensei que você poderia me ajudar... É, cancelem os exames!

Uma característica que eu adorava em Nitch era seu bom humor. Ele sempre sabia rebater situações, piadas, comentários de forma bem humorada independente da situação. Após terminarem os preparativos o teste se inicia. Durante o exame percebi que ambos, Nitch e Myca estão com uma aparência preocupada e apreensiva ao mesmo tempo. Não sei dizer se isso é bom ou ruim, não os conheço há tanto tempo assim para saber sobre o que significa cada mudança facial deles:

- Crianças. Brincadeira. Sorriso
- Ok, próxima.
- Familia. Trabalho. Casa.
- Está quase acabando essa etapa. Próxima!
- Lágrimas. Dor... - A memória falhava - Não consigo completar...
- Tudo bem, Z. Agora vamos intensificar o exame, vou forçar mais seu cérebro, tudo bem?
- Se minha cabeça explodir a culpa é sua!
- Se isso acontecer eu pego o vídeo das câmeras de vigilância, coloco uns efeitos bem maneiros e posto no youtube, fica tranquilo.
- Tem horas que você me assusta, Nitch!

Nitch pegou um estroboscópio, uma aparelho que emite luzes piscando de forma alternada podendo se programar a velocidade de alternância dessa luz e o virou direto para mim. A ideia agora continuava sendo olhar as imagens, só que agora com aquele aparelho piscando freneticamente na minha cara. O exame correu bem. Como avisado de início eu deveria responder algumas perguntas já sem a influência das imagens ou do estroboscópio. Nitch posicionou um gravador ao nosso lado para registrar caso algum avanço fosse feito:

- São Paulo, 12 de Julho de 2015. Teste com o Paciente "Z". Inicio: 16:00. Vamos lá. Pode me dizer seu nome?
- Z
- Não, seu nome verdadeiro!
- Não consigo... ainda não vem nada.
- Quem é Camila?
- Acho... Que ela era minha esposa.
- E o que mais?
- Não me vem mais nada na cabeça...

- Você se lembra de alguma coisa?
- Não, tenho lapsos de memória mas nunca sei o que realmente é meu ou minha imaginação me pregando peças.

Após uma série de respostas inconclusivas, Nitch resolveu dar o exame por encerrado. De acordo com os aparelhos eu não tinha nada além de uma confusão mental, coisa que pode acontecer caso haja algum trauma com o paciente, seja ele físico ou psicológico. Z continuava sendo um mistério naquele lugar. Mas eu ainda tinha perguntas:

- Nitch...
- Sim?
- Você fez uma gravação no início e me identificou nela. Se há necessidade de identificação significa que eu não sou o único aqui?

Nitch e Myca simultaneamente se entreolharam com uma expressão assustada. Como se eu tivesse descoberto alguma coisa que eles estivessem aprontando:

- Não! Sim! Sim... Existem mais... - Disse Nitch, embaraçado.
- "Existem"? Então é mais de um.
- É... São... - Myca acabou entregando.
- Entendo... Você também disse a data de hoje no começo...
- 12 de Julho de 2015?

Fiquei parado por um tempo, talvez minutos. acho que perdi a noção do tempo. Ao ouvir a data fui transportado para dentro da minha cabeça. Vi crianças correndo, vi a mesma Camila do meu sonho, vi balões e rostos borrados. Era uma festa, quando voltei a si estava deitado no meu quarto. Nitch e Myca ladeavam a cama e me chacoalhavam chamando meu nome:

- Z? Você está bem? - Perguntava Myca afoita.
- Sim... Que dia é hoje, Nitch? - Perguntei num salto, me sentando na cama.
- Hoje? 12 de Julho. Mas...
- Hoje é meu aniversário...

 Nitch e Myca simultaneamente se entreolharam com uma expressão assustada.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Z - Parte 5

Tomei um banho. estava completamente ensopado de suor devido à turbulência do sonho (ou pesadelo) desta noite. Ainda era madrugada e somente eu estava acordado. Myca disse que estaria me esperando após o banho para fazer alguns exames e conversar caso eu precisasse.
Fiquei me questionando e tendo alguns lapsos de memória sobre aquele sonho. Ele já não me assustava mais como de momento, mas eu buscava alguma razão ou sentido para toda aquela desordem.
Saí do banho e fui direto ao quarto ao lado me trocar:

- AAAAAAH!
- Myca?! Que... Que você está fazendo aqui?!
- Eu falei que ia esperar você, que iamos conversar, lembra? - Dizia a garota embaraçada com a situação enquanto virava de costas com as mãos sobre os olhos.
- Tudo bem, mas você não podia esperar lá fora?
- Lá fora? É... Claro! Lá fora! - E saiu correndo deixando para trás todos seus apetrechos médicos, como luvas, estetoscópio, prancheta de anotações...

Após o ocorrido comecei a rir. Me vesti. Fui ao encontro da garota mais atrapalhada e igualmente meiga que se lembrava de conhecer em toda minha vida.

Ao chegar ao refeitório, onde havíamos marcado de nos encontrar para conversar, Myca estava com o olhar fixado em sua caneca com chocolate quente e batia o pé no chão de forma inquieta. Cheguei calmamente colocando seus itens sobre a mesa:

- Você esqueceu isso...
- Olha, me desculpa por aquilo. Eu achei que talvez você precisasse de algu...
- Myca! Calma, esquece aquilo. Não tem problema. Foi engraçado até. Vamos apenas esquecer, certo?
- C-Certo!... - Concordou, ainda um pouco acanhada. - Então, me conta como você está se sentindo...
- Sinceramente? Não sei... Você já se sentiu como se você não fizesse parte do próprio corpo?
- Pra ser sincera, não...
- É um pouco difícil entender mesmo... - Dando uma breve pausa enquanto procurava uma forma de se explicar - Parece que não faço parte da minha própria história, as memórias estão querendo vir até minha mente mas elas não se encaixam. Eu não sinto como se elas fossem minhas.

A expressão de Myca havia mudado para uma muito mais preocupada:

- Isso pode ser algo até mesmo patológico. Nós devíamos fazer uma bateria de exames em você para tentar descobrir o que está acontecendo dentro da sua cabeça. Você topa?
- Claro! Qualquer coisa para saber quem eu sou de verdade!
- Então, eu vou preparar tudo para que possamos te examinar.
- Obrigado por tudo, Myca.

A garota se levantou e foi em direção a porta. Antes de deixar o local ela se virou repentinamente:

- E, Z...
- Hum?
- Vamos consertar você!
- Ahah! Eu espero...

E então deixou o local com a pressa inicial enquanto Z permanecia tomando sua caneca de chocolate quente.

A garota apresentava uma inquietação fora do normal, correu até a sala de exames procurando a unica pessoa que poderia ajudá-la sobre o que fazer no momento:

- NITCH!
- O que foi, Myca? Que susto!
- Ele está começando a se questionar! - Disse a garota com um certo medo na voz.
- Isso não é bom...

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Z - Parte 4

- Acha que ele vai se lembrar? - Indagou a médica.
- Não tenho como te afirmar isso, Myca.

Nitch era um rapaz jovem. Parecia ter uns 26 anos. Cabelos louros, bem arrumados e aparados dando a possibilidade de se pentear com gel arrepiando os pequenos fios para o alto. Recebeu este nome devido ao fanatismo de seu pai com o filósofo Nietzsche. Apenas havia ouvido falar muito dele. A cegueira de seu pai e a falta de instrução do rapaz do cartório não o permitia saber como se escrevia corretamente o nome de seu ídolo. A conversa continuava com a indignação da moça:

- Como não? Você mais do que qualquer um aqui neste lugar deveria saber uma resposta. Não será perigoso se ele descobrir?
-Também não posso te afirmar isso, Myca. É tudo muito instável! Pode ser que ele se lembre, pode ser que não. E mesmo se alguma destas duas hipóteses acontecerem como eu posso prever a reação dele?

Myca parou um segundo para pensar, procurar uma resposta para rebater a argumentação do colega de trabalho ou simplesmente encontrar novas perguntas que pudessem de alguma forma obter a resposta que queria. Nada. Nada vinha. Se deu por vencida por fim. Acatou. Ainda insatisfeita nada que dissesse mudaria o quadro:

- Então... Só nos resta esperar...
- Só nos resta esperar. - Concordou o rapaz.
- Bom, vou ver como ele está então...

A garota se levantou e rumou à porta:

- Er... Myca?
- Hum?
- Você vai fazer algo esta noite? - O rosto do rapaz se avermelhou.
- Só observar o Z.
- Hum... Ok.

A garota apenas sorriu e saiu do quarto, acostumada com o comportamento e a timidez do rapaz. Myca é uma moça bonita e jovem. Tinha 28 anos mas aparentava ser mais jovem. Possuía um corpo de dar inveja a muitas garotas mais novas. De fato, era admirável sua beleza combinada com suas curvas. Se apaixonara pela ciência unida à medicina desde seus 18 anos e desde então nunca mais largou o ramo. Entrou para o laboratório aos 22 anos e permanece nele até hoje cuidando e estudando pacientes que aparecem por lá. Ela era fascinada pela área em que atuava. Principalmente quando eram pacientes como "Z", que não se lembrava de nada, como um mistério a ser resolvido. Ficava horas o observando para tentar captar alguma reação diferente do habitual que lhe desse alguma resposta.
Nesta noite parecia mais intrigada que o normal. Sentia-se angustiada. Inquieta. Impaciente. Era como se algo dissesse a ela que alguma coisa aconteceria. Não sabia se era coisa boa ou ruim, apenas sentia.

A noite era fria. Parecia ser uma data especial, afinal, eu estava em casa. Minha mulher preparava o jantar enquanto batia papo com uma pequena menina na cozinha. Eu estava na sala. Tudo era tão confortável, tão familiar que chego a me sentir bem. Bem de uma forma que nunca senti, chega a ser nostálgico. o jantar está na mesa, comemos felizes, rindo, conversando... De repente tudo começa a ruir, a casa, as paredes, o fogo surge do nada. Vejo meus filhos correrem de medo e serem tragados por uma labareda de fogo que parecia ter vida própria. No rosto de minha esposa desciam duas lágrimas de sangue que pareciam ferver sua pele à medida em que desciam seu rosto. Era aterrorizante. Vi seu rosto mudar. Transmutou-se numa figura quase demoníaca. Deus, o que era aquilo? Ela gritava. Sua voz ecoava pelo vazio que tomou lugar da casa que desaparecera com o fogo dando lugar a um local parecido com o espaço. Haviam estrelas por todos os lados, nós flutuávamos. Como podia aquilo ser tão lindo e ao mesmo tempo tão assustador? Não tinha como me mover, a gravidade me impedia. Eu somente ia sendo arrastado enquanto aquele ser berrava fazendo sua voz ecoar em toda aquela imensidão quebrando todas as leis da física. A única coisa que eu podia ouvir era o som daquela voz cheia de ódio me culpando:

- É sua culpa!

Eu tinha certeza que ela gritava meu nome quando me acusava, mas sempre no final da frase a voz sumia e eu não podia entender do que ela me chamava. Fechei meus olhos com força pedindo para que aquele pesadelo acabasse e a figura desaparecesse. Ao abrir os olhos aquilo estava com o rosto quase colado ao meu, no susto meu instinto me fez gritar:

- PÁRA, CAMILA!

Uma mão prostrou-se em meu ombro. Me senti sendo puxado daquela imensidão. Era como se tivesse emergindo rapidamente da profundeza do oceano. Vi coisas passando rapidamente na minha frente, acho que eram fragmentos da minha vida, vida esta que não me lembrava de nada. Abri os olhos. Acordei. Uma mão estava posicionada no meu ombro. Era Myca:

- Z, calma! Tá tud...
- Camila.
- Ãh?
- Eu tenho um nome! Camila. - Disse assustado.
- Você se chama Camila?
- Não! Minha mulher! Ela se chamava Camila.



quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Z - Parte 3

Após poucos segundos meus olhos já se acostumavam com a luz mas ainda ardiam ao contato direto com ela. Já conseguia identificar objetos. Parecia um quarto normal, porém, adaptado para algo voltado à medicina ou testes de laboratório. Me sentia um rato ali. Enjaulado. Vigiado. Mas não podia me precipitar com minhas suposições, talvez não fosse nada disso, somente um engano:

- Q... - A voz falhava, aparentemente fazia muito tempo que não falava, não conseguia me lembrar da última vez que havia conversado com alguém. - Quem é v... você?

- A questão não é: Quem é VOCÊ? - Rebateu a mulher na porta.

Sua voz era macia aos ouvidos, porém, soava seca na intenção. Parecia estar brava.

- Eu.. não lembro do meu nome... - Respondi.

- Entendo... Continuaremos o chamando de "Z" então.

- O que é esse lugar? O que estou fazendo aqui?

- Aqui é uma espécie de hospital. Você se tornou uma espécie de paciente. Lembrou de algo importante para compartilhar conosco?

- Minha mulher... Ela... Onde ela está? - Perguntei ao me lembrar das memórias que tive mesmo sem saber o nome da pessoa que eu me preocupava em saber alguma notícia.

- Então você tem familia... Interessante... Ninguém te procurou, Z. Infelizmente não sabemos nada sobre você e nem de onde você veio. Sabe me dizer algo sobre isso? Sua mulher, sua origem?

- N... Não... Não consigo me lembrar de nada específico.

- Ok, minha visita termina aqui, então. Até logo.

Então ela virou as costas e saiu do quarto, tentei segui-la mas um jato de fumaça começou a sair da porta na minha direção e o pouco que inalei me deixou sonolento e com os sentidos fracos. De repente eu estava apagado.
Ao acordar, apenas eu, minha cama e meu quarto escuro. Quem sou eu? Por que "Z"? O que querem de mim?

terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu + Você

Meu sorriso desponta ponta a ponta quando me olha e me afronta fronte a fronte. Me descuido e cuido para que não perceba e ceda ao meu olhar de quem te deseja. Seja apenas a leveza que as penas podem proporcionar. Seja o riso de um sorriso digno do paraíso. Seja mais. Assim como sempre faz. Mostre a mim seu poder de querubim que me faz feliz simplesmente por ser tão simples assim. Me deixa oferecer tudo que posso te dar, sem podar, sem recuar. Vamos fazer flor nascer, pássaro voar e admirar nossas crianças a correr. Me deixa ler o que prevê o futuro de Eu mais você.