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sábado, 1 de agosto de 2015

Z - Parte 7

Myca colocou uma caneca de chá quente sobre a mesa e a empurrou até mim. Eu estava com o olhar um pouco vago olhando para o nada e sem esboçar muita reação a nada a minha volta:

- Vai, Z. Bebe um pouco de chá...
- Hum? Ah, obrigado, Myca...
- Então?
- Então...? - Retruquei.
- Quer me contar?
- Eu ainda  não sei
- Não sabe o que exatamente?
- Não sei se tudo que se passa é um sonho ou são memórias. Às vezes não tenho certeza nem de estar acordado. O que me garante que isso aqui é real? Como posso saber que não vou ser acordado novamente no meu quarto daqui a pouco?
- Olha Z... - Myca estendeu a mão colocando-a sobre a minha. - Eu sei que tudo deve estar bastante confuso pra você nesse momento. Mas eu posso te garantir que tudo isso aqui é real sim. Você não sente o calor do chá quando bebe? Não está sentindo que estou tocando em você?
- Sim. Mas...
- Mas...?
- Mas toda vez que tenho esses... Sonhos ou sei lá o que quer que sejam tudo parece tão real...
- Tem algo que você ainda não nos contou?
- O que realmente aconteceu no dia do exame, Myca?

Ela se ajeitou na cadeira, olhou fixamente para a caneca de chá que estava em sua mão, respirou fundo e em seguida me lançou um olhar um pouco triste:

- Naquele dia os exames corriam bem até o momento da entrevista...
- Você diz a hora que o Nitch começou a me fazer as perguntas finais? -Interrompi.
- Isso. Você pareceu um pouco nervoso e teve uma pequena convulsão e apagou. Nós o levamos até seu quarto e lá esperamos você acordar quando de repente você começou a se debater na sua cama até finalmente nos ver ali ao seu lado.
- Eu não sei dizer até que ponto foi real...
- O que, Z? - Perguntou com uma evidente curiosidade na voz.
- Eu me lembro de algumas perguntas... Mas deixa pra lá...


Qualquer que for a verdade sobre o que aconteceu, algo me incomodava sobre a forma que estavam mostrando interesse em apaziguar o que aconteceu no dia dos exames. Eu estava desconfortável. Desconfiado. E isso não me parecia algo bom. eu precisava me certificar. Mas como? Não posso andar sozinho por este lugar. Se há alguém além de mim aqui dentro talvez também não saiba da minha existência. Preciso ficar atento, observar turnos, padrões... Em algum momento quando eu saio, outro alguém pode entrar e assim acontece a mágica. Eu realmente quero respostas, mas na minha cabeça só me vem perguntas. Então está na hora de eu ir atrás do que eu vim procurar.
Passei a semana seguinte observando tudo de diferente de dentro do meu quarto, sons, movimentações externas, conversas rápidas enquanto Nitch e Myca passavam pela porta da minha "prisão". Já não era mais uma pulga atrás da orelha, era um carrapato bem grande me sugando todo o sangue do meu cérebro e aquilo estava me consumindo. Eu passei a evitar dormir algumas vezes só para tentar notar algo estranho ao meu redor. O cansaço venceu:

- Z?
- Myca?

Eu não podia ver nada, estava tudo escuro e lá no fundo eu podia ver uma fraca luz, algo parecido com uma vela acesa. Eu comecei a caminhar até ela:

- Não se aproxime!
- Mas... Quem está aí? Eu preciso saber quem é você!
- Você tenta descobrir quem sou eu... Mas e você, quem é?
- Eu... Não sei...

No meio daquela escuridão comecei a ouvir leves batidas ocas, cadenciadas, que começavam a aumentar de pouco em pouco. De repente as  batidas entravam na minha cabeça fazendo um estrondo, pareciam bombas caindo. Quando acordei estava sentado no chão com o corpo encostado contra a porta. Passei tanto tempo ali que não percebi que apaguei de cansaço naquele lugar. Desnorteado com o sonho nada esclarecedor tentei me levantar. Droga, minha perna adormeceu. Camableei quase caindo, e num baque seco choquei meu corpo contra uma das paredes do quarto. Tomara que não tenha alarmado nem a Myca nem o Nitch.
Meu coração congela. Um frio passa pela minha espinha e sinto uma sensação de euforia que não podia explicar... As batidas que eu ouvi... Eram reais! Estavam ali. Atrás de mim. Alguém estava tentando se comunicar. Tem alguém atrás dessa parede.

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