Pesquisar este blog

domingo, 12 de julho de 2015

Z - Parte 6

- Z, assim que você estiver pronto nós começamos, ok?

Era a hora de começarmos a vasculhar minha cabeça para encontrar esse "Eu oculto". Quem estava encarregado de monitorar o exame todo era Nitch. Myca o auxiliaria durante todo o processo caso algo aconteça comigo. Espero que tudo corra bem:

- Tudo ok, Nitch.
- Ótimo!

Seguimos para a sala de exames e lá fui instruído a ficar sentado. A minha frente havia uma tela onde de acordo com Nitch, passariam imagens a cada 15 segundos e eu deveria relacioná-las com pelo menos três coisas que viessem na minha mente. Enquanto me explicava, Nitch ia colando eletrodos pelo meu corpo:

- Bom, a ideia é forçar sua cabeça para que aquele aparelho ali possa captar sua atividade cerebral e de repente nos dar alguma resposta sobre seu "problema" de memória.
- Entendi. E tem algum risco?
- No máximo uma convulsão leve... Ou quem sabe duas!
- Nossa, me conforta muito! - Disse ironicamente. Óbvio.
- Z, durante o exame vou te fazer algumas perguntas também, ok?
- Não sendo de matemática...
- Ah, droga! Eu estava com algumas duvidas em equação de segundo grau e pensei que você poderia me ajudar... É, cancelem os exames!

Uma característica que eu adorava em Nitch era seu bom humor. Ele sempre sabia rebater situações, piadas, comentários de forma bem humorada independente da situação. Após terminarem os preparativos o teste se inicia. Durante o exame percebi que ambos, Nitch e Myca estão com uma aparência preocupada e apreensiva ao mesmo tempo. Não sei dizer se isso é bom ou ruim, não os conheço há tanto tempo assim para saber sobre o que significa cada mudança facial deles:

- Crianças. Brincadeira. Sorriso
- Ok, próxima.
- Familia. Trabalho. Casa.
- Está quase acabando essa etapa. Próxima!
- Lágrimas. Dor... - A memória falhava - Não consigo completar...
- Tudo bem, Z. Agora vamos intensificar o exame, vou forçar mais seu cérebro, tudo bem?
- Se minha cabeça explodir a culpa é sua!
- Se isso acontecer eu pego o vídeo das câmeras de vigilância, coloco uns efeitos bem maneiros e posto no youtube, fica tranquilo.
- Tem horas que você me assusta, Nitch!

Nitch pegou um estroboscópio, uma aparelho que emite luzes piscando de forma alternada podendo se programar a velocidade de alternância dessa luz e o virou direto para mim. A ideia agora continuava sendo olhar as imagens, só que agora com aquele aparelho piscando freneticamente na minha cara. O exame correu bem. Como avisado de início eu deveria responder algumas perguntas já sem a influência das imagens ou do estroboscópio. Nitch posicionou um gravador ao nosso lado para registrar caso algum avanço fosse feito:

- São Paulo, 12 de Julho de 2015. Teste com o Paciente "Z". Inicio: 16:00. Vamos lá. Pode me dizer seu nome?
- Z
- Não, seu nome verdadeiro!
- Não consigo... ainda não vem nada.
- Quem é Camila?
- Acho... Que ela era minha esposa.
- E o que mais?
- Não me vem mais nada na cabeça...

- Você se lembra de alguma coisa?
- Não, tenho lapsos de memória mas nunca sei o que realmente é meu ou minha imaginação me pregando peças.

Após uma série de respostas inconclusivas, Nitch resolveu dar o exame por encerrado. De acordo com os aparelhos eu não tinha nada além de uma confusão mental, coisa que pode acontecer caso haja algum trauma com o paciente, seja ele físico ou psicológico. Z continuava sendo um mistério naquele lugar. Mas eu ainda tinha perguntas:

- Nitch...
- Sim?
- Você fez uma gravação no início e me identificou nela. Se há necessidade de identificação significa que eu não sou o único aqui?

Nitch e Myca simultaneamente se entreolharam com uma expressão assustada. Como se eu tivesse descoberto alguma coisa que eles estivessem aprontando:

- Não! Sim! Sim... Existem mais... - Disse Nitch, embaraçado.
- "Existem"? Então é mais de um.
- É... São... - Myca acabou entregando.
- Entendo... Você também disse a data de hoje no começo...
- 12 de Julho de 2015?

Fiquei parado por um tempo, talvez minutos. acho que perdi a noção do tempo. Ao ouvir a data fui transportado para dentro da minha cabeça. Vi crianças correndo, vi a mesma Camila do meu sonho, vi balões e rostos borrados. Era uma festa, quando voltei a si estava deitado no meu quarto. Nitch e Myca ladeavam a cama e me chacoalhavam chamando meu nome:

- Z? Você está bem? - Perguntava Myca afoita.
- Sim... Que dia é hoje, Nitch? - Perguntei num salto, me sentando na cama.
- Hoje? 12 de Julho. Mas...
- Hoje é meu aniversário...

 Nitch e Myca simultaneamente se entreolharam com uma expressão assustada.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Z - Parte 5

Tomei um banho. estava completamente ensopado de suor devido à turbulência do sonho (ou pesadelo) desta noite. Ainda era madrugada e somente eu estava acordado. Myca disse que estaria me esperando após o banho para fazer alguns exames e conversar caso eu precisasse.
Fiquei me questionando e tendo alguns lapsos de memória sobre aquele sonho. Ele já não me assustava mais como de momento, mas eu buscava alguma razão ou sentido para toda aquela desordem.
Saí do banho e fui direto ao quarto ao lado me trocar:

- AAAAAAH!
- Myca?! Que... Que você está fazendo aqui?!
- Eu falei que ia esperar você, que iamos conversar, lembra? - Dizia a garota embaraçada com a situação enquanto virava de costas com as mãos sobre os olhos.
- Tudo bem, mas você não podia esperar lá fora?
- Lá fora? É... Claro! Lá fora! - E saiu correndo deixando para trás todos seus apetrechos médicos, como luvas, estetoscópio, prancheta de anotações...

Após o ocorrido comecei a rir. Me vesti. Fui ao encontro da garota mais atrapalhada e igualmente meiga que se lembrava de conhecer em toda minha vida.

Ao chegar ao refeitório, onde havíamos marcado de nos encontrar para conversar, Myca estava com o olhar fixado em sua caneca com chocolate quente e batia o pé no chão de forma inquieta. Cheguei calmamente colocando seus itens sobre a mesa:

- Você esqueceu isso...
- Olha, me desculpa por aquilo. Eu achei que talvez você precisasse de algu...
- Myca! Calma, esquece aquilo. Não tem problema. Foi engraçado até. Vamos apenas esquecer, certo?
- C-Certo!... - Concordou, ainda um pouco acanhada. - Então, me conta como você está se sentindo...
- Sinceramente? Não sei... Você já se sentiu como se você não fizesse parte do próprio corpo?
- Pra ser sincera, não...
- É um pouco difícil entender mesmo... - Dando uma breve pausa enquanto procurava uma forma de se explicar - Parece que não faço parte da minha própria história, as memórias estão querendo vir até minha mente mas elas não se encaixam. Eu não sinto como se elas fossem minhas.

A expressão de Myca havia mudado para uma muito mais preocupada:

- Isso pode ser algo até mesmo patológico. Nós devíamos fazer uma bateria de exames em você para tentar descobrir o que está acontecendo dentro da sua cabeça. Você topa?
- Claro! Qualquer coisa para saber quem eu sou de verdade!
- Então, eu vou preparar tudo para que possamos te examinar.
- Obrigado por tudo, Myca.

A garota se levantou e foi em direção a porta. Antes de deixar o local ela se virou repentinamente:

- E, Z...
- Hum?
- Vamos consertar você!
- Ahah! Eu espero...

E então deixou o local com a pressa inicial enquanto Z permanecia tomando sua caneca de chocolate quente.

A garota apresentava uma inquietação fora do normal, correu até a sala de exames procurando a unica pessoa que poderia ajudá-la sobre o que fazer no momento:

- NITCH!
- O que foi, Myca? Que susto!
- Ele está começando a se questionar! - Disse a garota com um certo medo na voz.
- Isso não é bom...